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5 de dezembro de 2011

Clarice - Parte I


Era uma tarde qualquer, na verdade uma tarde até anormal. Anormal porque eu acordei tarde, e não precisava ir. Eu pude ficar, e pude também curtir um sorriso, e um abraço gostoso da minha mãe. Ela sorrindo pra mim, me chamando de "meu bebê", e eu abraçando ela e vendo o quanto eu sou bem mais alta. É, eu sou mais alta que minha mãe! Mas o anormal estava dentro de mim. Eu precisava de alimento pra alma, pra mente, pro corpo. E eu resolvi recomeçar a ler um livro da Clarice. Sou fã dessa mulher, e li tão poucos livros. Acontece que eu me identifico tanto, que não tenho como explicar. E acho que nem preciso, porque é uma confluência de palavras que eu acho que ela me adivinhou. Coitada de mim, me achando muita coisa, mas é isso, a Clarice me adivinhou bem antes da minha mãe sonhar que um dia ficaria grávida, que teria uma menina, que se tornaria essa pessoa desatinada que vos fala, ou melhor, que vos escreve. Acho que o mundo não seria mundo sem a Clarice Lispector. E nem sem mim, é claro. E consequentemente, sem a filha que terei, que não será surpresa, mas se chamará Clarice, não só por causa da Lispector, mas porque eu sinto uma luz que emana da boca quando esse nome é pronunciado. Não sei. Mas eu sinto uma claridade em Clarice. Alguém ai já chorou durante uma leitura? Pois eu chorei do nada lendo um livro da Clarice, a Lispector, Perto do coração selvagem, que por sinal foi meu primeiro livro da Clarice, presente do pai da Clarice, a filha que terei. Pois bem, eu chorei lendo a Lispector. É que me vi ali, sendo descrita, sendo lida por mim mesma, e eu tive pena. Não me pergunte o motivo de ter sentido pena de mim. Eu não saberia explicar. E eu nem tentaria, diga-se de passagem. Mas eu senti um amor tão grande por mim, que eu não consigo mais sentir agora. Sabe aquele amor que você sente e que se orgulha de sentir? Eu tive orgulho de me amar. E eu me amei, em todos os meus defeitos. Eu me amei, e me inundei de mim mesma.
E agora eu penso que eu poderia pedir a Clarice Lispector em casamento, mas seria um pedido por escrito, sem muitas delongas, porque acho que ela não era mulher de delongas. Mas eu esperaria que ela me respondesse, toda  tempo, porque eu adoraria lê-la infernizada por minha causa.





Marcelle Silva, 26 de agosto de 2011/ 5 de dezembro de 2011

Um comentário:

  1. "Eu tive orgulho de me amar. E eu me amei, em todos os meus defeitos. Eu me amei, e me inundei de mim mesma"
    Um texto me fez sentir dessa maneira...já chorei muito em diversos textos com a profundidade do que o personagem do livro estava dizend...
    vc me fez sentir saudades...

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