AVISO

ISTO É UM DIÁRIO.

25 de março de 2012

2:43

Não queria começar o dia de domingo chorando. Não importa o motivo, porque prometi que não falarei mais sobre isso, nem aqui, nem para ninguém. Só dentro de mim. Só...

Mas eis que a Luana fala comigo pelo chat do Face, e vem me mostrando os emoticons que dá pra fazer pelo chat! rsrs Depois ela me diz que o animal preferido dela é o jacaré! O meu é o gato, não tem para onde correr! Ela me tira um sorriso, mesmo sem saber. Às vezes conversando pela net, a gente tem mania de rir "hsuahsuahsa", ou "rsrsrs", ou ainda "hahahaha", sem ao menos mexer os lábios, ou ter vontade de sorrir. Mas Luana, meu melhor sorriso hoje vai para você.

Essas são minhas primeiras palavras do dia, depois de um leve desabafo no meu blog Flor do Desatino, que me custou as últimas energias positivas do sábado...não estou nada bem por dentro, meu coração dói...queria conseguir dizer não.



15:45
Não consegui continuar a leitura do texto do Philippe Lejeune, sem que meus pensamentos me incomodassem, e ele mesmo me incomodasse a ponto de eu ter de conversar, de escrever a todo custo o que eu penso agora. Antes de falar nisso, devo dizer que acordei tarde, e que fiquei na cama um tempão, enrolando pra não encontrar com meu pai, que já tinha chegado pra almoçar. Tem dias que eu prefiro não encontrar com ele, que a mágoa bate forte no peito, e olhar pra cara dele bêbado me dá mais mágoa ainda. Fel, sou feita de muito fel...
Os domingos pra mim são sempre dias melancólicos, quando estou em casa. Hoje não foi diferente, porque a casa estava mais silenciosa, o fluxo de carros é menor na avenida, as lojas estão fechadas, então me sinto mais a vontade para refletir sobre as coisas da vida. Depois do almoço, resolvi continuar a leitura da parte do “O pacto autobiográfico" na qual há o diário do autor, essa leitura, antes de terminada, me inquietou e perturbou bastante, a ponto de eu ter tido de recomeçar a escrever daqui mesmo do quarto, porque larguei o texto em cima da minha cama, e sai pra ver se meu pai ainda tava na sala dormindo no sofá (porque meu computador fica na sala, ao lado do sofá, e eu prefiro não usar o computador quando ele tá dormindo, porque eu não sei ser silenciosa em nada que eu faça, sou muito estabanada!), então retornei pra o quarto e liguei o notebook. Fazer o que? Tenho me estressado muito escrevendo no notebook porque eu sempre me atrapalho nas teclas e com esse mouse tão sensível. E nisso, já perdi minha monografia uma vez, porque fui apagar um arquivo na pasta do pendrive, e acabei apagando tudo, monografia e tudo, ou seja, perdi tudo. Mas eu tinha salvo na área de trabalho do notebook, e em vários cantos do meu PC. Quase morro esse dia, mas enfim, isso não vem ao caso.
O que vem ao caso é que eu comecei a pensar em um monte de coisa ao mesmo tempo, conversar que eu tive antes de ir dormir, com a Luana, o que eu sinto sobre não estar acompanhando os blogs de um montão de gente que eu adoro, por falta de paciência e de tempo, tava lembrando na época que eu escrevia nos blogs eróticos, quando eu usava meu pseudônimo pra que pessoas conhecidas não vissem e relacionassem minha escrita comigo, Marcelle, as pessoas que eu conheci por causa da blogosfera e que quero muito bem, mas estou muito distante, no fato de eu já ter criado tantos blogs, com tantos objetivos, me desdobrando, tentando acompanhar meus fluxos de ideias, que não são poucos, desde que eu percebi que eu sou várias. Soou muitas mulheres dentro de mim, e tenho mania de tentar me acompanhar, de seguir o que nós queremos fazer, o que nós queremos escrever, porque geralmente, nós não queremos misturar uma com a outra. Esse blog, Do verbo ao desatino era pra ser de uma Marcelle que estava tentando escrever um gênero de escrita; o Flor do desatino já acolheu várias Marcelles, mas já que é desatinado, aceita ainda várias, mas não se deixou levar pela Marcelle que queria escrever textos eróticos. A Marcelle que ninguém conheceu, exceto algumas poucas pessoas pra quem eu contei, a que escrevia como uma personagem totalmente fora de contexto do que nós geralmente escrevemos, viveu muito intensamente durante meses, e a ela eu agradeço a criação dos blogs que me fizeram enxergar outros blogs femininos sobre BDSM, bissexualidade, erotismo, enfim, uma imensidão de assuntos interessantíssimos que eu talvez nunca tivesse encontrado se essa outra eu não tivesse se desprendido de mim. Lamento por ela ter se fechado dentro de si, porque eu sinto que ela não quer se abrir mais, talvez um dia, mas outras Marcelles querem ter suas vezes. Não era bem isso que eu tinha em mente, falar sobre as várias eu, também não to tentando justificar nada, talvez eu queira colocar diante de mim o que eu tenho de perceber, que é bonito isso de se desprender. Nunca me orgulho de nada que eu escrevo, que eu faça, mas disso eu consigo me orgulhar, me admirar, e me agradecer, por não deixar nenhuma parte de mim presa aqui dentro.
Depois de escrever sobre isso tudo, ainda to sentindo uma sensação de incompletude, de dever que ainda não foi cumprido. Estou insatisfeita comigo, com minha falta de disciplina, com uma certa falta de reconhecimento, não sei...mas acho que eu deveria me esforçar muito mais, ser muito mais eu, mas estou me deixando levar, e eu não quero admitir isso. Não admito que eu mesma me desperdice, que eu mesma deixe que o vento leve pra longe tudo o que eu tenho a dizer, porque eu tenho tanto pra falar, mesmo que minha voz não seja ouvida. Não me importa mais, não quero escrever só no intuito de que mais alguém me leia, não,,, eu juro que eu quero parar de me preocupar se eu vou ter audiência ou não. É esse meu desejo ridículo de um dia lançar um livro com tudo o que eu tenho, ridículo, porque há alguns meses, até o nome do título do livro eu já tinha escolhido.,, será que é isso mesmo, Luana? Isso acontece porque estamos no Brasil, e não na França? Eu teria reconhecimento, na França? E então o Philippe Lejeune me leria, e também falaria de mim em um dos livros dele? E o apelido ao qual ele se referiria a mim seria “A Desatinada”, ou “Flor do Desatino”? Sonhando acordada, como sempre!
Estou escrevendo no Word mesmo, porque ainda não posso ir pra o computador, escrever direto no blog. Já que estou escrevendo da forma mais prática, já que prefiro escrever assim à no papel (porque acho que consigo dar conta melhor do meu fluxo rápido e constante de ideias), vou terminar de ler o texto do Lejeune, e tentar cumprir pelo menos metade do que eu planejei fazer hoje ainda. Estou escrevendo a pouco mais de meia hora. Parei por enquanto.
                                                            

16: 35
Terminei de ler o texto. Apesar de tudo, sinto um carinho enorme por ele. Tudo bem que ele não me leia, porque o Cristian Paiva, de certa maneira, é meu Philippe Ljeune (que ele não saiba que eu disse isso hahahahaha)!
Ah, de tão imersa que eu me senti lendo, acabei absorvendo o jeito dele de separar o texo, com as horas, o horário que estou retomando a escrita. Preferi tentar escrever durante o dia, ir escrevendo e contando os acontecimentos acontecendo. Se vou conseguir, acho que sim...se vou continuar a escrever diariamente, depois do fim do semestre, isso é uma incógnita, porque eu sempre hesitei em transformar meus blogs em diários, e sempre que eu escrevia contando algum fato, alguma coisa do meu dia, eu mesma me interrompia, repreendendo isso. Agora, Cristian Paiva me fez quebrar meus paradigmas. Quebrar não, rever, reconfigurar seria melhor, pensando bem.

18:00

Estava imprimindo uns textos pra o grupos de estudos sobre novos campos, e a tinta acabou antes que eu terminasse de imprimir o último. Não faz mal, mas tenho de lembrar de pedir à mamãe pra recarregar logo. Eu quero muito que esse grupo vingue, porque ele vai ajudar muita gente, e apesar de ser tão chata, tão amarga, eu gosto muito de ter ideias úteis. Fico feliz porque esse grupo surgiu esse ano, de uma ideia que eu dei na primeira reunião do NUSS, e o Cristian gostou. Acho que contempla à todos, não só os chegados ao Nuss, que estão mais ligados, mas a qualquer pessoa que queira tentar socializar com a gente. Digo isso porque tem gente que não quer se aproximar por preconceito, só porque o núcleo aborda assuntos sobre sexualidades...dizem por ai que lá só estudam gays, lésbicas, e agora, sadomasoquismo! Enfim, preconceitos existem em todos os lugares, todos dos dias da semana e do ano. Mas que venham muitos interessados, porque duas ou mais cabeças pensando, vão muito longe! E é isso que nós queremos. É isso que eu quero.

Uma vez eu falei pra alguém um dos motivos de eu não gostar de movimento militante. Não gosto de bagunça, baderna, e nem de me machucar fisicamente, lutando por mim e pelos outros. Eu acredito em outras formas de luta, outros meios de tentar fazer alguma coisa pelo mundo, e escrever é MEU meio, e não preciso que ninguém aceite ou não, porque eu sei que já fiz muito bem pra muita gente, pra mim então nem se fala. Que escrever seja uma terapia, uma maneira de se comunicar, ou só um hobbie, seja o que forma: eu escrevo porque eu existo, porque eu gosto, porque eu me sinto bem, e preciso. Eu me importo sim, eu sofro e sangro também, por dentro, por fora seja como for. E também me machuco pelos outros. Todos nós, de todas as maneiras nos ferimos pelos outros. Mas, vou parar por aqui porque não era isso o que eu pensava antes de começar a escrever. Eu tava ouvindo o Jay cantar Ideologia, do Cazuza, depois emendei no Marilyn Manson, e é isso. Não combina um com o outro? Nem ligo, não sou nada convencional, e nem quero ser. Mas o que seria esse convencional que eu quero fugir, e por que? Ah, não gosto de ser rotulada, de ter de ser "normal", de ceder ao "que deve ser", porque eu posso ser o que eu quiser.

Estou me sentindo menos triste, agora...mas o dia ainda não acabou. Sigo escrevendo.


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